9 de abril de 2020

O erotismo segundo a Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino

O professor Victor Correia é um autor sui generis da Guerra e Paz. Anima-o um amor desinteressado pela literatura a que é impossível um editor resistir. Depois de reunir pequenos e pequeníssimos contos, mais raros e pouco lidos, de autores portugueses no livro Pequenas Histórias dos Grandes Clássicos da Literatura Portuguesa, um livro que merecia ter tido outra recepção crítica e maior adesão dos leitores (isto sou eu a chorar-me, carregadinho de razão), Victor Correia entregou à Guerra e Paz um bestseller, um verdadeiro campeão de vendas e de popularidade.
Estou a falar dos Poemas Eróticos dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses. A fortuna deste livro começou, logo, no programa Governo Sombra, quando João Miguel Tavares o propôs como livro da semana e cada um dos outros intervenientes, Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira, Carlos Vaz Marques leu versos ardentes de um dos poemas eróticos. E a verdade é que a fortuna deste livro começa na escolha e na abordagem de Victor Correia. Ele escolheu poemas de autores galegos e portugueses (que nem saberiam se eram galegos ou portugueses) escritos na língua que também não se sabia se era só galega ou se já era também portuguesa, isto para seguirmos o que o mestre Fernando Venâncio nos ensina. Victor Correia frequentou a Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino, em Roma, e logo, lendo este livro, ficamos a pensar nas belas coisas que ali se ensinam, mas não ficou preso a fórmulas canónicas e estritas: é que seleccionou os poemas com critérios académicos, mas depois fez o abençoado sacrilégio de os traduzir para o português contemporâneo, pondo-os ao alcance do leitor comum. Ou seja, deu-lhes vida. O mesmo que, recentemente, o escritor Andrés Trapiello fez em Espanha, “traduzindo” para espanhol contemporâneo o Don Quixote, pondo-o assim ao alcance dos espanhóis que, ao contrário dos portugueses, franceses, ingleses, não podiam ler (e não liam!) o livro no idioma contemporâneo, desistindo muitas vezes perante a barreira do espanhol do século XVII.
Foi o que fez Victor Correia. Fez bem, fez serviço público, como podem ler no excerto que oferecemos. Estes poemas eróticos, a roçar por vezes o escatológico, tratando de casamentos, adultérios, poligamia, incesto, e outras heterodoxias sexuais, são de uma franqueza, de uma candura, diria eu, cristalina, mas não sem ironia e sem um pendor lúdico que nos solidariza com esses humanos que viveram há oito ou nove séculos antes de nós. Eis aqui, na ligação em baixo, a nudez que nos une.

1 comentário:

  1. Isto é uma categoria digna de um libertino!
    Será uma óptima companhia para as noites quentes de inverno, as manhãs cálidas do outono, as tardes ardentes da primavera ou para as madrugadas inflamadas do verao.

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