5 de novembro de 2020

the trip - eileen myles

 





inspirada nas viagens de Jack Kerouack , Eileen Myles rola na extensa estrada americana acompanhada da sua familia -  um cão e quatro marionetas .

um magnifico documento de criação e poesia.

4 de novembro de 2020

sem nome

 


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Eileen Myles é uma poeta e escritora americana, nascida em Cambridge, Massachusetts em 1949.  

 «um dos intelectos mais inteligentes e inquietos da literatura contemporãnea»   Dennis Cooper

 
 
 

 

                                                  SEM NOME

não ensaie
faça
logo à primeira

de repente
uma nuvem
azul
está no
céu

e depois
ela é o
céu

 

25 de outubro de 2020

os medos também têm Mãe




 Um dia, num tempo mal-arrumado na memória, um filho mais novo foi mandado ao mercado pela Mãe. Entre cá e lá, havia floresta. Com as suas sombras e restolhos. Queria tratar do recado e ver as coisas que só se encontram no mercado. Depois do mano velho e dos do meio, chegara a sua vez. Mas a floresta tinha as suas sombras e restolhos e ele só teria consigo o seu cesto. Vazio para lá, cheio para cá, mas só um cesto.

Vendo o filho mais novo parado à porta de cesto na mão, a Mãe perguntou porque tardava a ir.

“Os monstros existem, Mãe?” perguntou-lhe de volta o filho, olhando em frente.

“Existem, se acreditares neles.” respondeu a Mãe, retomando a costura. 

“E vivem na floresta, nas suas sombras e restolhos?” perguntou-lhe de volta o filho, olhando à roda.

“Vivem onde queres que estejam. Chamam-se Medos.” respondeu a Mãe, medindo o pano da bainha.

“Tenho medo dos Medos. E a Mãe?” perguntou-lhe de volta o filho, olhando para os sapatos.

 “Escuta com atenção, meu filho. Quando atravessares a floresta, pisando as suas sombras e restolhos, se vires um monstro, não fujas. Corre para ele e ele desaparecerá." respondeu a Mãe, cortando o fio com os dentes. 

"Mas" perguntou-lhe de volta o filho, olhando para ela "e se o monstro fizer a mesma coisa e correr para mim? É que se os Medos existem, então também têm Mãe”.

A Mãe picou o dedo na agulha, mas sorriu. O seu filho mais novo crescia. 


texto Ana Monjardino

imagem Ana Marchand 


 

 

11 de outubro de 2020

SAVE THE DATE | João Rosa Narciso | Abertura a 24 de Outubro | Galeria Diferença, Lisboa

























JOÃO ROSA NARCISO

Com duas pedras na boca

Galeria Diferença, Lisboa

O artista João Rosa Narciso (1996, Rio Maior) realiza a sua primeira exposição individual, intitulada Com duas pedras na boca, na Galeria Diferença, entre 24 de outubro e 21 de novembro de 2020.

A exposição é constituída por peças, desenhos e pinturas de diferentes proveniências e materiais, nomeadamente: pedras encontradas, objetos de barro, tela pintada, vidro pintado e papéis post-it desenhados a grafite. À primeira vista, esta multiplicidade de origens e formas pode fazer notar diversas frentes ainda dispersas e voláteis no corpo de trabalho que o artista têm vindo a desenvolver no escasso tempo que o separa desde a formação em Design, realizada na University of the Creative Arts, em Londres em 2016-2019. No entanto, de facto, a complexidade parece ser de outra ordem. Se nos debruçarmos, literalmente, sobre as obras expostas, a pequena dimensão das mesmas assim o exige, podemos verificar uma linha consistente e unificadora entre elas. As palavras, escritas sempre com o mesmo tipo de letra, estão presentes em quase todas as obras da exposição. Para se ser mais correto e preciso, as obras são construídas através destas palavras, ou seja, as letras que constituem as palavras são elas próprias desenhos que ocupam o espaço bidimensional ou tridimensional em que são apresentadas. Também os materiais onde as palavras são escritas têm relevância: o vidro é frágil, as pedras fortes, os post-it para não esquecer. Esta premissa é uma questão formal. A fonte da letra é manual e encontra-se esborratada e suja. Esta caligrafia, apesar de seguir uma coerência, remete para o que se ensina quando se aprende a escrever e é de entendimento fácil, mas com espessura, o que talvez seja uma referência à formação do artista ou esteja em confronto com fontes usadas no Design Gráfico. Esta caligrafia permitirá não só compor um desenho que ocupe o espaço que lhe foi atribuído e dificultar a leitura, mas também revelar algo que pode ser visto como uma premissa conceptual e que se forma como unificadora da obra. Neste sentido é necessário indicar quais as palavras ou frases representadas: Post poetic dreams; Noites Brancas; testamento; police kills in 2020; america is burning;  Regicídio; Military Dreams, Artist as Athlete; peting the working class; dreams on Revolution; “apagar história”???; Bio Politics; banho de água cheia; pés no chão frio; abaixem lá a bola oh bófias, caralho pá!!! e tu também; eu tinha que ser artist”; nostalgia for the present; Exodo Urbano; fast parenting; talento; unnoticed; digital black face; forguetful; és um porco racista; Mindful Vandalism; mijo amarelo escuro; pandemic dreams; disgraced monuments, cheio de fronteiras; post quarentine Love; Mau Aspecto; Post social trauma. Ao refletir sobre o significado de muitos destes conceitos nota-se não apenas a contemporaneidade de tais ideias, como também a pertinência contestatária e revolucionária que deles advêm.

Ao unificar as questões formal e conceptual a obra de João Rosa Narciso revela-se na pertinência de atirar pedras ou palavras com a boca. Através do arremesso de arte, ou de objetos artísticos, é possível situar o seu lugar de presença, da sua voz e da sua fala, num mundo cada vez mais estranho e opressivo, em que o poder reside omisso e invisível. Neste sentido, a revolução tem que ser feita nas manifestações de rua e nos desacatos com a autoridade. Não é possível omitir que grande parte das obras aqui apresentadas foram realizadas em tempos de pandemia da COVID 19 e em tempos de quarentena obrigatória determinada pelo estado de emergência decretado pelo estado. Como também não é possível esquecer que a voz e as palavras serão, porventura, a expressão limite da liberdade e da independência individual e coletiva. A força das palavras é questionável na medida que o seu isolamento torna-as mais visíveis e legíveis para que se possam fazer ver e ecoar na cacofonia do quotidiano.

Outubro 2020

Hugo Dinis


24 de setembro de 2020

40 anos depois

Não me lembro da primeira vez que a vi. Fiz um esforço de memória e foram muitas as "kodaks" que passaram. Rimo-nos muito, chorámos pouco e temos em comum podermos partilhar a nossa experiência de filhas. Somos amigas e eu não me lembro da primeira vez que a vi.





40 anos depois da primeira exposição individual em 1981, na SNBA




21 de setembro de 2020

Para a Rita perceber

“As Desgraças da vida, são a alegria da arte

 

Take 1

Obladi obladá, era a época do gelado Rajá.

Nasci no nº15 da Avenida António Augusto de Aguiar a 6 de Agosto de 1960 e a coisa mais radical que fiz nessa década foi receber o Prix de Turbulence no Liceu Francês Charles Lepierre, ainda as Amoreiras eram mesmo para apanhar as folhas que alimentavam aquelas lagartas que tínhamos em caixas de sapatos e que eram os únicos animais que a minha mãe permitia que coabitassem connosco. Os bichos-da-seda.

Já nessa altura dizia que queria ser pintora talvez por ter sempre à mão canetas de feltro, lápis de cor, de cera e lapiseiras (uma infância Caran D’Ache…).

Nunca gostei de aguarelas e tinha queda para os guaches que espremia com especial gozo.

Apaixonei-me por uma tesoura mais ou menos por volta de 1967 e até hoje ela tem sido a minha mais fiel companheira (só a traí em 1998 quando resolvi fazer uma exposição sem uma única colagem. - não gostei da infidelidade.) Lembro-me de recortar a Jackie Kennedy das páginas do Paris Match e acho que foram essas as minhas primeiras colagens

Para ver se ganhava algum prémio de jeito ou domar a minha indisciplina passei a frequentar o colégio ao lado, o Externato do Parque das Irmãs Doroteias onde passei então a década de 70 a fazer desenhos tipo “Amor é” e naturezas mortas psicadélicas, influência do grafismo da época e da leitura voraz da revista “Schoner Wohnen” (o meu período Rotring…)

No dia 25 de Abril de 1974 não percebi muito bem o que estava a acontecer. Mas calculei que a coisa não fosse má, pois a televisão mostrava muita gente bem disposta nas ruas e eu sempre gostei de festas.

Mas não saí de casa, vi a revolução pela televisão a preto e branco, de robe aos quadrados escoceses, um pouco estupefacta com tanta gente sorridente, “Chaimites” e G3 com cravos.

O meu percurso político também é um pouco peculiar, venho da direita para a esquerda, o que não é de estranhar, pois nenhuma adolescente desinformada como eu era, gosta de um dia para o outro perder privilégios.

Mas rapidamente percebi que me tinha saído a “Sorte Grande” e li tudo o que me apareceu à frente.

Passei da “Colecção Azul” às “Novas Cartas Portuguesas” enquanto o “diabo esfregou um olho.”

Tão depressa como passei dos rios de Angola à Revolução Cubana cheguei aos anos 80.

Entrei na ESBAL em Janeiro desse mesmo ano e percebi que tinha começado a minha vida de adulta.

 

Take 2

Obladi obladá já não há gelados Rajá.

“Travelling”,” Peeping Tom”, “Mary Smith born in 1989”, “Notorius”, “Tous les chiens de ma vie”, “Phoenix, Arizona”, “O telefone acordou-a às 5.30 da manhã”, “Coats and Clark”, “Casual”, “Besoin d’une jolie fille pour mercredi”, “Insípida”, “Os domingos passaram a ser dias suportáveis”, “Este ano o tempo é que se atrasara, mas eles eram pontuais”, “Elisabeth Alione teve um estremecimento”, “Trois chiens rouges”, “Imbecil”, “ La vengence d’ une blonde”, “Bad day at Black Rock/ Vera Cruz (sessão dupla) ”, “Estrada 175 Norte”, “Cianeto”, “She was a visitor”, “Quebec”, “Peneirenta”, “Pick my box”, “Entre mim e os meus botões”,”Sonso”, “Finalmente”, “ Um, dois, três macaquinho do chinês”, “Aborrecida”, “Bavarder”, Mr and Mrs Donuts”, “Glum”,

“Sem título – colagem”, ”Top hat”, “ Branca de Neve I”, “Branca de Neve II”, “Branca de Neve III”, “Inconfidência”, “Orgulho e preconceito”, “Pourquoi faire simple, quand on peut faire compliqué?”, “Austrália”, “ To have or have not”, “ December the coolest Month”, “I’ve never expected you to come”, “A glimpse”, “Still”, “Colecção Cinema”, “By friends and enemies alike”, “Beija-me idiota”, “Ménage à trois”, “Woman’s work is never done”, “Ao lado de uma menina limpa há sempre uma menina suja”, “Tudo isto e o céu também”, “Madalenas”,”A minha desordem é o meu capricho”, Inaparente”, “Para antes do esquecimento”, “Enquanto Tarzan dormia”, “Super Pop”, “ A maravilhosa tendência para o desastre”,”Janela indiscreta”, “Unforgiven”, “She”, “Ouça-a”, “Acabo de cair da bicicleta”, “Sou uma pessoa pouco sociável”, “Uma rapariga turbulenta”, “Mas”, “Coração Burro”, “El dolor de Lolita”, “Tornei-me feminista para não ser masoquista”,”Acredito ter mãos, acredito ter boca, quando só tenho patas e focinho”, “É – me”,” Agora és minha”, “Não pretendo respostas inteligentes para tudo”, “Nada a fazer”, “Nada a dizer”, “Nada a acrescentar”.

 

Pinto há 26 anos, a última pintura que fiz chama-se, “ O treino da generosidade”

 

 

Texto publicado no Jornal de Letras

Escrito em dezembro 2007 

 

ADENDA: agora pinto há 40 anos, e tenho mais "resmas" de títulos para escrever textos 





mar do japão 2








 


       Há uma montanha que desce

                                    Há um lago que sobe

 

                            O que é?

 

 

                                                          

          O segundo dia.

20 de setembro de 2020

mar do japão


 


                           Página branca

                               Manhã de primavera

    Maré cheia

                                            

                                                  

                                                   Não há.

 

17 de setembro de 2020

A coragem dos tímidos

Coragem dos tímidos

Cão sem dono

Carrasco Santa


Não jogo.

 

Aspereza

Agrura

Abri as portadas do atelier e a fria manhã de Setembro gelou-me as mãos. 



16 de setembro de 2020

"(...) Metaphor for Love”







Gosto de tirar os sapatos no carro 
levantar as pernas 
colocar os pés no tablier. 
Fiz muita viagem assim 
recostando o banco do lugar do morto 
semicerrando os olhos com a moleza 
ou com o gozo do ócio
Olhava para os  meus pés durante rectas 
curvas  
descidas. 
Cheguei a atravessar o Atlas assim.
Ontem 
vi pela primeira vez os pés de uma velha 
Foi o fim do sonho 
easy go easy come.







14 de setembro de 2020

"O Concurso de Bom Gosto"* | (sobre pintar)

Eu

encontro

coisas,

depois

guardo‐as.

Junto‐as.

Penso

que

não

as

perco.

Elas

entendem‐se

entre

si

numa

lógica

sua.

Eu

estou

de

fora.

O

tempo

vai

passando

e

depois:

(...)

depois

eu

tento

entrar,

forço,

vou

forçando

e

entro

mesmo,

mas

por

vezes

o

espaço

é

pequeno

e

perco‐as,

apesar

de

nos

misturarmos

eu

mato.

E

perco.

Ou

será

que 

ganho?

Nada

é

eterno.

É

isto:






*o título é de Lydia Davis


11 de setembro de 2020

Todos os anos, a 11 de Setembro

eu publico este texto: 


A 10 de Março de 2002 descemos uma 5th Avenue deserta e fria. Íamos subir ao Empire State Building, que voltara a ser o maior edifício de NYC. A 366 metros por minuto o céu fica mais perto. Não estava muita gente. Estava até muito pouca gente. Ali e na cidade inteira. De repente, duas enormes colunas de luz azul substituíram o World Trade Center.
Ninguém falou, fotografou ou fez qualquer gesto.Olhamos simplesmente em silêncio. Depois descemos, voltamos pela Broadway até à 51.
Nunca falamos muito sobre essa noite. Voltamos muitas vezes a NYC. Nunca fomos ao Ground Zero. Por respeito

Little Korea, Little Ukraine, Little Italy, Chinatown, Lower East Side (judeus), Little India, Yorville (alemães), Upper East Side (russos), El Barrio (latinos) Hell’s Kitchen (irlandeses) e o maravilhoso Harlem.

Foi de “Littles” que se fez a “Big”. Não vi um único “Novayorquino” de cabeça baixa nesse frio mês de Março de 2002. O que mudou foi o skiline, aquilo que os olhos alcançam. O “coração” da Big, esse músculo involuntário continuou em “littles” batidas tum tum, tum tum, tum tum. NYC será sempre a cidade mais viva do mundo.

Saudades de ti Madalena, por cá continuo ainda.Feliz, como tu querias. 

*Adenda de 2020: Olha, há um virús muito contagioso a matar gente no mundo inteiro. Não pude este ano cumprir a promessa de voltar a NYC de dois em dois anos e subir ao Empire. O melhor é fazer de conta que este ano "não conta" pode ser?



9 de setembro de 2020

Sob anonimato


Oeiras candidata-se a Capital Europeia da Cultura 2027.

O regulamento encontra-se aqui e a  cerimónia de atribuição decorrerá no 
Dia Mundial da Poesia em 2021. 


8 de setembro de 2020

Leonor de Almeida

SpaceX Dragon, Agosto 2020
screenshot 


 Canto Vago


                                                Eu queria  conhecer as estrelas 
                                                que alumiam o céu do sono!

                                                O sono dá notícia dos mortos
                                                O sono cala o vento
                                                apaga a chuva
                                                e destrói o tempo

                                                O sono ignora o coração
                                                O sono ignora o pensamento

                                                Eu queria conhecer as estrelas
                                                que alumiam o céu do sono!

                                                Até os pássaros dormem
                                                Testemunhos da natureza
                                                os pássaros distendem as asas
                                                que aderem à folhagem
                                                e dormem...
                                                e conhecem as estrelas
                                                que alumiam o céu do sono!


Almeida, Leonor de. poesia reunida, na curva escura dos cardos do tempo, Ponto de Fuga, Lisboa, 2020

7 de setembro de 2020

Uma Tristeza na Feira do Livro

 



É já no Domingo que a nossa querida poeta participa no encontro “Delícias em Língua Portuguesa” acompanhada por Fernando Venâncio e Marco Neves. 

27 de agosto de 2020

12 de agosto de 2020

bilhas de leite

 




Zé Manduca era o caseiro dos meus avós. Era um touro de força. E igualmente bruto.

A sua primeira tarefa do dia era ordenhar as vacas. Elas gostavam dele. Deixavam-se estar, tranquilas, enquanto ele as aliviava do excesso. Antes de seguirem para o pasto, havia sempre uma que se despedia com turras e encontrões que ele retribuía. Essa acabou por morrer no colo dele com um vitelo entalado. Trazia o leite ainda quente para o pequeno almoço dos patrõezinhos – o meu Pai e os seus quatro irmãos. Se não tivesse sobrado manteiga, pescava-se a nata com o dedo e comia-se no pão. Nas mãos dele, as bilhas até pareciam vazias. Num desafio de machos jovens, um dos meus tios tentou levantar uma. Nem se mexeu. A partir daí, Zé Manduca passou a herói. Mas quando bebia, metia medo. Bom tipo, mau vinho.

Desaparecia o resto do dia, nas suas tarefas de Hercules açoriano. Só se ouviam os latidos do Cara Negra, marcando os cantos da quinta, trotando no seu encalço como se fosse o dono.

Os meninos cresceram e foram estudar para o continente. Os meus avós mudaram-se para a Cidade e deixaram a quinta aos fetos-reais. Fora dela, Zé Manduca estava fora de contexto. Sem jeito. Ainda lhe deram um lugar na empresa da família. Nunca se adaptou.

Depois veio o progresso. A Cidade passou a ter semáforos. Abriu o Hiper. Na véspera da inauguração, mais de mil pessoas pernoitaram no parque de estacionamento. Choveu, como de costume. Um homem deu uma surra à mulher por ter gasto as economias de uma vida num trem de cozinha. Era em inox, justificava-se ela debaixo da pancada.

Numas férias grandes, o meu Pai foi visitá-lo. Encontrou-o velho e cansado de olhar para os pés. Não tinha nada para fazer. Isso não faz bem à cabeça de um homem. O meu Pai ainda propôs ensinar-lhe a ler. Disse que não tinha serventia para ele. Tal como ele não tinha para ninguém.

Alguém disse que o viu saltar da rocha, chamando às mãos o destino, tão pesado como as bilhas do leite.   

  

                    imagem    Ana Marchand                     texto      Ana Monjardino

7 de agosto de 2020

Over the Edge


Over the Edge (i), República Centro Africana, 2020.




Over the Edge (ii), República Centro Africana, 2020.

Over the Edge (iii), República Centro Africana, 2020.


Over the Edge (iv), República Centro Africana, 2020.


Over the Edge (v), República Centro Africana, 2020.

Over the Edge (vi), República Centro Africana, 2020.

 

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