12 de maio de 2020

Pião sem Trena


 

Todos gostamos de olhar para um pião a rodopiar. É o super-herói de qualquer recreio. Ficamos agarrados pela vertigem da velocidade, abismamos com quantas voltas consegue dar e apostamos para que lado vai cair, exausto. Dramático até ao fim, como um verdadeiro artista. Na sombra, fica a trena que agasalhou o pião com tanto cuidado. Com o seu abraço. Para logo ser dele arrebatada com um puxão de chicote. E assim que se solta do pião, deixa de existir, pendente numa mão que ninguém vê ou caída no chão. O pião é tudo. E a trena, nada.  Mas sem ela, o pião não passa de um pedaço de madeira. Sem vida. Sem público. A trena é a Mulher do pião. Ou então é a Mãe.  

fotografia Ana Marchand
texto de Ana Monjardino

5 comentários:

  1. Lá girar girou. E ainda gira!

    ResponderEliminar
  2. Que texto giro sobre o pião que gira.

    ResponderEliminar
  3. A trena, uma espécie de sonho que comanda a vida. Vida que, tal como o pião, está sempre sujeita aos acasos, felizes ou infelizes, de um sopro de vento, de um pontapé inadvertido, ou de um trilho acidentado. É assim que gosto de a imaginar. Bela dupla de imagem e texto. Obrigado Ana & Ana.

    ResponderEliminar

Must