22 de março de 2020

CLARIM, 15 notas de um emigrante



  1. Não, não, não. Não Vos venho falar das notícias publicadas pelo homólogo argentino, isso é apenas para periodistas de craveira. O que venho partilhar, é um queixume. Em Maputo não há Clarim, nem sabão azul e branco; tive que me adaptar ao produto local. É um paralelepípedo de secção quadrangular, com um volume de aproximadamente um terço do nosso sabão e é embalado em papel-manteiga. Ah! E existe uma versão que se vende assim – na mão, sem nada -, mas muito semelhante na cor e até no cheiro ao nosso querido Clarim. Não fosse a humidade subtropical de Maputo e tinha as mãos sequíssimas.
  2. Hoje, tal como o Henrique M., li no FT, o melhor jornal do mundo segundo o PN, o excelente artigo do Yuval Noah Harari (The world after coronvirus), que já para aí andou a escrever uma data de livros que toda a gente leu, ou diz ter lido. Neste ambiente de resistente resiliência, chama à atenção, entre outros assuntos, para a perca de direitos e liberdades e da possibilidade destas percas se eternizarem e do facto das pessoas chamadas a escolher entre saúde e liberdade, optarem - maioritariamente - pela saúde; remata dizendo que não deveria ser necessário optar. Houve uma frase que me chamou especialmente à atenção: Whenever people talk about surveillance, remember that the same surveillance technology can usually be used not only by governments to monitor individuals – but also by individuals to monitor governments.
  3. (Enquanto escrevo, acabou de ser diagnosticado o primeiro caso de COVID19 em Maputo.)
  4.  Coincidência, das coincidências, deu-se o facto de ontem a Margaret Atwood, que co-ganhou o The Booker Prize 2019, me ter dito, no The Testaments, que … a National Emergency was declared, but we were told that we should carry on as usual, that the Constitution would shortly be reinstated, and that the state of emergency would soon be over. That was correct, but not in the way we assumed. It was a viciously hot day. The courts had been closed – temporarily, until a valid line of command and the rule of law could be reinstituted, we were told. Os escritores, têm, esta obrigação moral, de inventar mundos e ficções de alerta.
  5. Entretanto, cortei o cabelo em casa à máquina 3, e tenho poupado imenso em champô, por este andar, julgo que precisarei de um novo frasco por alturas do Natal; para quem não sabia o que me dar, aqui fica a sugestão.
  6.  Flatten the curve! Sim, a curva, essa prostituta tangente à nossa insanidade.
  7.  Se há profissão que deve estar a ter, agora e no futuro, pressão é a dos psicólogos; bem hajam.
  8.  Teletrabalho: vamos perceber imensas coisas, umas evidentes e que andávamos a tapar com a peneira, outras nem por isso. Como dizia também o Y. Noah Harari, no artigo de que Vos falei no ponto2., avançaremos/avançámos por decreto para uma nova Sociedade; funcionários públicos (as generalizações são sempre muito perigosas, mas…) a trabalhar de casa e protecionismos laborais do sector privado que resvalam poderão traduzir – realmente – um novo modelo que se traduza num paradigma capaz de terminar com esta Idade (ainda estamos na Contemporânea?). Oh Admirável Mundo Novo.
  9.  Para fechar o ponto 8., o A. Pomar diz, e muito bem, que o Governo não devia prometer (mais uma vez o que não pode cumprir) que tudo ficará como dantes; nada será como dantes, devíamos ser convidados para o futuro.
  10. É a Economia Estúpido! Ai meu deus, nem sei se lhe hei de pôr maiúscula ou não!
  11. Por falar em economia, a TAP, a nossa querida companhia de bandeira, de que sou passageiro frequente e GOLD tudo!, da qual o estado (este é que foi com minúscula de propósito) é o segundo maior acionista, pasme-se com 49%, suspendeu os voos de e para Maputo, de momento, até ao fim de Abril. Isto logo a seguir ao governo ter dito que não suspenderia os voos para os Palops… No comments. Eu, neste meu papel de exilado, não sei como irá ser, a correr mal; vejo-me obrigado a parafrasear o meu amigo N. Sousa, à falta de melhor comparação: estamos como os judeus em Varsóvia em 1940.
  12. Eu, que sou pelo mercado e pela economia liberal, gostava que a malta (o Governo e outros) percebessem que não estamos numa economia de mercado, foi decretada EMERGÊNCIA: estamos numa economia de EMRGÊNCIA, pelo que as leis do mercado não se aplicam.
  13. Bem, no meio disto tudo, ainda assim, a iniciativa não para e ontem estive a participar numa conversa dum grupo de amigos no House Party, éramos 6, e bebi uma bela garrafa de vinho tinto, menos um copo que ficou hoje para o almoço.
  14. Contra previsões de todas as casas de apostas analógicas e digitais, cá estamos todos outra vez, os bons, os maus e os vilões!, com uma ou outra aquisição (A. Vidigal) ou reaquisições que saúdo! Avé!
  15. Quebrando o protocolo, pode ser que me tenha passado e que o teor político esteja indelével, mas verdes são os campos já dizia o grande nadador.


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