Dia 1 do Estado de Emergência. Vamos ter fé.
Nunca antes o homo domesticus foi confrontado com
tantas decisões a tomar em tão curto espaço de tempo. Saber como empregar o
tempo livre quando se fica confinado às paredes de casa e às vinte e quatro
horas do dia é um exercício de alguma dificuldade. Não por falta de opções mas
por excesso delas. É claro que há sempre a possibilidade, para quem a tem, de
fugir ao tempo livre acrescentando tempo de trabalho. Sim, as empresas deste
mundo tecnológico rapidamente perceberão que o teletrabalho em quarentena é um
manancial de faculdades infinitas para a pulverização dos limites dos períodos
normais de trabalho e tratarão de o manter, com muito menos custos para os seus
bolsos claro está, mesmo depois de a tempestade passar. Ora aí está mais uma
razão para não exagerar no trabalho em casa e tirar um curso intensivo sobre como
escolher com qualidade quando se trata de decidir o que fazer quando se é
obrigado a ficar em casa.
Mas, vamos ao que interessa. Para quem tem família, como este vosso amigo, o Monopólio, o Cluedo e o Subbuteo livrar-se-ão das camadas de pó que acumularam em muitos anos (décadas mesmo). A Netflix, a HBO, o Filmin, a TVCine e o videoclube da NOS entregar-se-ão a uma competição feroz para captar a atenção mesmo daqueles que ainda não conheçam o germe (travei a tempo de usar a palavra vírus, que seria de muito mau gosto na atual circunstância) de devoradores de filmes e séries que transportam consigo. Voltarão as reuniões familiares à volta de um écran de televisão, convertido à noite em sala de cinema, e, como em tempos imemoriais se fazia, os almoços e os jantares serão palco de discussão do rico cartaz de programação cultural caseiro. A Peste do Camus e o Ensaio sobre a Cegueira do Saramago procurarão impor-se à pilha de livros que na cabeceira espreita à espera de vez, e terão de coexistir com o Publico e o Expresso neste tempo particular em que a informação credível é de ouro. Tudo isto sem o ruído sonoro imposto pela rua – da rua, apenas chegará o canto dos pássaros a prenunciar que, depois da tempestade, virá a bonança. E de outras casas, virão músicos de todo o mundo em concertos que nos entrarão pelas nossas dentro, para, todos os dias, nos fazerem lembrar que é em casa que se deve ficar neste tempo. E nunca nos faltará o sol das janelas, e o das escapadelas diárias de curta duração destinadas à sua fruição, e, da atividade desportiva, passará a rezar a história que, qualquer canto, parede ou chão de casa é um ginásio em potência.
Mas, vamos ao que interessa. Para quem tem família, como este vosso amigo, o Monopólio, o Cluedo e o Subbuteo livrar-se-ão das camadas de pó que acumularam em muitos anos (décadas mesmo). A Netflix, a HBO, o Filmin, a TVCine e o videoclube da NOS entregar-se-ão a uma competição feroz para captar a atenção mesmo daqueles que ainda não conheçam o germe (travei a tempo de usar a palavra vírus, que seria de muito mau gosto na atual circunstância) de devoradores de filmes e séries que transportam consigo. Voltarão as reuniões familiares à volta de um écran de televisão, convertido à noite em sala de cinema, e, como em tempos imemoriais se fazia, os almoços e os jantares serão palco de discussão do rico cartaz de programação cultural caseiro. A Peste do Camus e o Ensaio sobre a Cegueira do Saramago procurarão impor-se à pilha de livros que na cabeceira espreita à espera de vez, e terão de coexistir com o Publico e o Expresso neste tempo particular em que a informação credível é de ouro. Tudo isto sem o ruído sonoro imposto pela rua – da rua, apenas chegará o canto dos pássaros a prenunciar que, depois da tempestade, virá a bonança. E de outras casas, virão músicos de todo o mundo em concertos que nos entrarão pelas nossas dentro, para, todos os dias, nos fazerem lembrar que é em casa que se deve ficar neste tempo. E nunca nos faltará o sol das janelas, e o das escapadelas diárias de curta duração destinadas à sua fruição, e, da atividade desportiva, passará a rezar a história que, qualquer canto, parede ou chão de casa é um ginásio em potência.
E para todos os pais, avós ou
tios, que de nós estão separados, os smartphones
e tablets lá de casa iluminar-se-ão,
piscarão e vibrarão diariamente para nos darem o conforto diário de sabermos
que estão em segurança. E, enquanto isto, o mundo avançará para os salvar, e a emergência,
vamos ter fé nisso, soltará as suas grilhetas para que o dia “eterno e claro”
surja, uma vez mais, para nos permitir o longo abraço adiado.
O mundo que ficará depois
disto ninguém consegue antecipar. Mas, tal como o navio do Comandante Vasco
Moscoso de Aragão do velho Jorge Amado resistiu à tempestade, quando tudo à
volta era destruído, porque todas as amarras foram lançadas ao cais, uma certeza
há: a de que o nosso porto seguro, as amarras da família e o cais onde atraca,
resistirão. E fica a esperança de que, mesmo que nada volte a ser como dantes, não
desapareçam os laços comunitários, as correntes de solidariedade, o impulso de
humanidade que uma luta que a todos afeta - sem distinção de geografias, raças,
credos ou condição económica – tem reforçado. Vamos ter fé.
Vamos, Diogo, vamos ter fé...
ResponderEliminarIsso, Manuel, um dia de cada vez.
EliminarVamos voltar a dar tempo ao tempo… e devagar devagarinho, chegaremos longe.
ResponderEliminarHaja esperança e amigos como tu.
Obgada
Querida Madame Unknown, haja esperança sim. E para uma amiga como tu, esta casa está sempre aberta :-)
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