Se
há coisa que sinto falta no atual momento de confinamento é de um foyer. Que é, segundo o dicionário e em
linguagem de teatro, o “salão onde os espetadores podem aguardar o início da
sessão e permanecer nos intervalos”. Como eu ouvi em tempos a um ilustre gestor
e programador cultural da nossa praça, não há teatro que sobreviva sem um foyer, literal ou metafórico, onde o espetador
possa, de viva voz e com o calor próprio da mais saudável das discussões,
partilhar com outros as dúvidas, inquietações, dores, euforias e demais estados
de alma, provocados por uma peça de teatro, um filme, um concerto, um livro ou uma
exposição. Sem o foyer dos teatros,
ou da sala de jantar da casa de amigos, da mesa da esplanada ou do café, ou dos
verdes campos do festival, não se cumpre a função última do espetáculo, que é a
da sua capacidade de partilha e catarse. Sem o foyer, é o mundo inteiro que perde, porque a cultura fica impedida
de realizar a sua vocação, que é a de salvar o mundo.
Pior do que estarmos sós, é não sabermos se outros se sentem tão sós como nós na fruição de uma obra artística, se outros viram, ouviram ou leram o mesmo que nós, e como o viveram sem a sensação de partilha de uma experiência comum. Alguém terá suspirado com a despedida da Carrie Mathison no último episódio da temporada do adeus definitivo de “Homeland” (“Segurança Nacional”)? Alguém viajou para a Síria e sentiu o frémito dos assobios permanentes dos mísseis de Bashar al-Assad no documentário “For Sama” ou o medo do mundo tenebroso do Daesh em “Kalifat”? Ou andou pelo subúrbio parisiense de Montfermeil, onde outrora Victor Hugo se inspirou para a sua monumental obra homónima, e se solidarizou ou apiedou com os jovens excluídos dos “Misérables” de Ladj Ly? Ou percorreu as Irlandas, tão diferentes e tão iguais como a das “Pessoas Normais” de Sally Rooney e a de “Milkman” de Anna Burns, e se arrepiou com os mais obscuros ou luminosos recantos que a nossa alma pode esconder? Ou se entregou à brisa suave do último álbum dos Strokes ou vibrou ao acompanhar em direto um mini-concerto caseiro do genial Patrick Watson? Ou é um dos 60.000 voyeurs diários que, indiferente a todas as culpas e pudores, entra no jogo de non sense com que, a partir de casa e a horas tardias, Bruno Nogueira e os seus convidados sem filtros se entretêm a estilhaçar as convenções mais elementares?
Se há alguém com a mão no ar, fico a saber que não estou só. Ou não estamos sós os de cá de casa. O que, só por si, já é um consolo. Só fica mesmo a faltar o nosso foyer para, juntos, de partilha em partilha, chegarmos à catarse final. Para que continue a haver esperança de que o mundo se pode salvar.
Pior do que estarmos sós, é não sabermos se outros se sentem tão sós como nós na fruição de uma obra artística, se outros viram, ouviram ou leram o mesmo que nós, e como o viveram sem a sensação de partilha de uma experiência comum. Alguém terá suspirado com a despedida da Carrie Mathison no último episódio da temporada do adeus definitivo de “Homeland” (“Segurança Nacional”)? Alguém viajou para a Síria e sentiu o frémito dos assobios permanentes dos mísseis de Bashar al-Assad no documentário “For Sama” ou o medo do mundo tenebroso do Daesh em “Kalifat”? Ou andou pelo subúrbio parisiense de Montfermeil, onde outrora Victor Hugo se inspirou para a sua monumental obra homónima, e se solidarizou ou apiedou com os jovens excluídos dos “Misérables” de Ladj Ly? Ou percorreu as Irlandas, tão diferentes e tão iguais como a das “Pessoas Normais” de Sally Rooney e a de “Milkman” de Anna Burns, e se arrepiou com os mais obscuros ou luminosos recantos que a nossa alma pode esconder? Ou se entregou à brisa suave do último álbum dos Strokes ou vibrou ao acompanhar em direto um mini-concerto caseiro do genial Patrick Watson? Ou é um dos 60.000 voyeurs diários que, indiferente a todas as culpas e pudores, entra no jogo de non sense com que, a partir de casa e a horas tardias, Bruno Nogueira e os seus convidados sem filtros se entretêm a estilhaçar as convenções mais elementares?
Se há alguém com a mão no ar, fico a saber que não estou só. Ou não estamos sós os de cá de casa. O que, só por si, já é um consolo. Só fica mesmo a faltar o nosso foyer para, juntos, de partilha em partilha, chegarmos à catarse final. Para que continue a haver esperança de que o mundo se pode salvar.
Queres melhor foyer que o nosso EET?
ResponderEliminarO nosso EET é o mais perfeito sucedâneo que um foyer pode ter. Só lhe falta o calor da voz e do abraço.
ResponderEliminarSó não estás Diogo.
ResponderEliminarPorque estamos todos sós.
O foyer essa antecâmara da solidão é que desapareceu.
O espectáculo é outro.
Pois, Ana. Se todos estamos sós, faz ainda mais falta o foyer que ponha em comum as nossas solidões. Que haja espetáculos que o consigam nestes tempos (e há-os) é admirável.
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