Depois
de (1) The Wall, (2) Scary Monsters e (3) Closer, os fundamentos da educação
musical do rapaz de 13 anos estavam lançados. Quase tudo o que o rapaz ouviu
depois foi herança ou recriação desses três momentos fundadores. E o que veio
então depois que ficou para sempre? É isso que o rapaz vos vem aqui apresentar
agora: os sete álbuns ilustres sucessores que, para além dos pais instituidores
da herança, traz sempre consigo no seu ADN. Do mais velho ao mais novo, entram
já de seguida as restantes sete das dez dívidas de gratidão musical da sua
vida.
(4) One From The Earth, Tom Waits / Crystal
Gayle (1982) – O rapaz só o descobriu na década de 90, tal como o
extraordinário filme homónimo (de que é a banda sonora) de Francis Ford
Coppola, mas foi bem a tempo de curar as suas dores de amor. Acha o rapaz que não
há homem ou mulher com história sentimental que se preze que nunca as tenha
tido. O rapaz não foi exceção e foi salvo pelo One From The Earth, no qual procurou consolo quando nada mais lho dava.
(5) It´ll End In Tears, This Mortal Coil
(1984) – Companheiro noturno inseparável do rapaz ao longo de cinco anos de
exames durante o Curso de Direito. A licenciatura é tão dele como de Ivo
Watts-Russell, dono e responsável da 4AD, que reuniu as bandas e os nomes
emblemáticos da editora (Cocteau Twins e Dead Can Dance à cabeça) e mais alguns
convidados para montar o projeto This Mortal Coil, com o qual, além deste It´ll End In Tears, fez ainda dois
outros maravilhosos álbuns (“Filigree & Shadow” e “Blood”) que também aqui podiam
estar. Ainda hoje, quando perguntam ao rapaz que canção levaria para uma ilha
deserta, continua a responder “Song To The Siren”, na versão aí cantada pela
Elizabeth Fraser.
(6) Disintegration, The Cure (1989) – O último
grande álbum dos The Cure, a banda que fez do rapaz um rapaz de tribo. Ainda
hoje o rapaz não ouviu nenhuma guitarra, ou qualquer outro instrumento, que
conseguisse replicar o som que Robert Smith arranca da sua Fender Bass. Depois
dos Joy Division, foi com o som sombrio e atmosférico dos Cure e dos Echo &
The Bunnymen que o “eu” do rapaz se partiu em dois: a partir daí, foi toda uma
vida repartida entre o “mainstream” a que o convívio social e as saídas
noturnas o obrigavam e o sentimento de pertença a uma “tribo” definida por
afinidades musicais quase do domínio da clandestinidade. Os Cure acabaram por
vir em seu socorro com canções que, com o tempo, se tornaram êxitos
“mainstream” de pistas de dança. Está aqui Disintegration
como podiam estar outros anteriores como “Seventeen Seconds”, “Head On The
Door” ou “Kiss Me, Kiss Me Kiss Me”: os Cure foram (ainda são), sobretudo, uma
banda de grandes canções, mais do que de grandes álbuns.
(9) Kid A, Radiohead (2001) – Um dia, o
rapaz há-de aqui vir contar a história de como assistiu em direto, nos
primeiros meses de 1997, à estreia mundial de “Ok Computer”, outro álbum dos
Radiohead que ficou para a História. Encostado ao balcão do Paradise Garage,
não imaginava, ele e mais umas quantas dezenas que lá estavam, a importância
que iriam ter aquelas canções nas duas décadas vindouras. Mas, depois do
luminoso “The Bends” e do emblemático “Ok Computer”, foi Kid A, quatro anos depois, que abriu as portas do futuro ao rapaz.
Este, o futuro, já tinha muitas imagens de filmes e de livros na cabeça do
rapaz. Só faltava a banda sonora. Em 2001, Kid
A (tal como o igualmente notável “Amnesiac” no ano seguinte) anunciava o
futuro, e em 2020, já o rapaz vai a caminho de velho, continua a anunciar o
futuro. E desconfia que daqui a 20 anos, se ainda lhe restar lucidez para isso,
continuará o rapaz já velho a dizer o mesmo.
(10) Sound of Silver, LCD Soundsystem (2007) –
A síntese perfeita entre o velho e o novo, entre o rock (afinal continua bem
vivo) e a eletrónica, entre o experimentalismo e as pistas de dança, entre os
sons do mundo e a herança ocidental. Veio renovar o stock das canções que o
rapaz traz na ponta da língua. E, se para uma ilha deserta levaria o “Song To
The Siren”, a canção que tem reservada para o momento de celebração que um dia
chegará é o “All My Friends”.
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