Podologia ou a importância dos pés.
Hoje passei um bom momento a
olhar para os meus pés. Há quem diga que são bonitos. Pezinho mimoso. A unha do
mindinho é só um apontamento, mínimo indispensável para cumprir o requisito de
existir. E há um osso a sair do peito do pé que não se percebe para que serve.
Atrapalha com alguns tipos de sapatos, mas não doí. Não há calosidades nem
durezas dignas de nota. De resto, não têm história.
Pensando melhor, claro que têm
história. A minha!
São os meus cúmplices de aventuras
caminhadas, aliados confiáveis na arte da fuga, parceiros rodopiantes de tango
argentino. Esticam-se para alcançar a prateleira dos biscoitos da avó. Saltam
para evitar a poça de chuva. E a casca de banana. Param para eu pensar. Ou para
ver o por do sol. Ou para lançar raízes. Procuram os de quem gosto e avisam
quando está muito frio. Não consigo adormecer enquanto não tiverem aquecido.
São a minha base, o meu eixo
dinâmico, os meus pilares que marcam dez para as duas. É neles que começa e acaba o trilho oficial.
Não é por acaso que um dos marcos
do nosso crescimento é quando nos erguermos neles e enfrentarmos a caminhada
com a certeza de que, atrás de um passo, vem outro logo a seguir. Por algum
motivo, é para eles que vamos olhando à medida que envelhecemos, a eles
juntando a bengala no debate do balanço da vida. E são eles que nos vigiam da outra
extremidade do caixão, agora que já somos capazes de dormir com eles gelados.
desenho de Ana Marchand
texto de Ana Monjardino
Ana, belo e dinâmico desenho. E que boa ideia essa de aqui trazer a outra Ana, a Monjardino, para louvar os mais confinados dos membros do nosso corpo confinado. Gostei muito da dupla. E que haja Ana Monjardino continue a vir aqui desconfinar-se.
ResponderEliminarDeu-me cá um calafrio...rico par.
ResponderEliminarAos poucos vamos aquecendo...
ResponderEliminarGostei muito.
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