Destemidas é o bom título português de Les Cullotées, inicialmente uma tira de BD, criada por Pénélope Bagieu, no blog homónimo do Le Monde, sobre trinta mulheres admiráveis que ousaram mudar o mundo. Mulheres destemidas. Depois do sucesso das tiras, o sucesso em livro, publicado pela Gallimard, e amplamente traduzido. Premiado. Por fim, a série da France Télévision, apoiada pelo Programa de Media da União Europeia.
Foi esta série emitida pela RTP 2, com este conteúdo, que viu o episódio sobre
Thérèse Clerc transferido do espaço online infanto-juvenil Zig-Zag para a RTP
Play após queixas de tele-espectadores ao Provedor da RTP e à Entidade Reguladora
para a Comunicação Social, tendo o Partido Renovador Democrático anunciado já
uma queixa-crime contra a RTP.
O que desencadeou a fatwa ultra-conservadora foi o percurso
de Thérese Clerc, de católica e casada a marxista, divorciada e lésbica,
activista. Feminista. Não sendo demais referir que foi a marxista, divorciada, lésbica,
activista quem se insurgiu contra a violência doméstica, a criminalização do
aborto, e quem abriu a primeira universidade sénior, quem lutou pelos direitos
LGBT. Mas tudo quanto fez desaparece diante de um beijo na boca. A uma mulher.
E se afunda na luta pelo direito ao aborto.
Sendo eu católica, essencialmente conservadora, de um PSD que,
por vezes, me dá vontade de voltar ao socialismo utópico da minha destemida avó,
ateia, e defensora do aborto e da condenação efectiva de quem batia em mulher e
filhos, devo dizer que muito me surpreende que a homossexualidade, a religião e
o aborto, liberdades constitucionalmente garantidas por este Estado de Direito
em que vivemos, possam ser consideradas matéria imprópria e censurável, por muito
que possam, e em simultâneo, ser práticas inaceitáveis para pessoa A ou B, no exercício
da sua liberdade de escolha pública ou privada. Cito:
«O programa infantil da RTP2
promove aborto, divórcio e homossexualidade. Segundo a Rádio Televisão
Portuguesa (RTP), ‘o Zig Zag é o espaço infantil da RTP dedicado a crianças
entre os 18 meses e os 14 anos’. Neste programa, que mostramos, é
escandalosa a defesa e promoção do aborto, conseguido como uma vitória, e não
uma derrota, para a sociedade, como se a morte de um bebé inocente pudesse ser
uma coisa boa. Faz-se, também, o elogio a uma mulher, com 4 filhos, que sai de
casa para ir viver com outra mulher. O ódio ao Catolicismo percorre o vídeo
inteiro.»
A democracia permite a
divergência. E exige por junto com a liberdade, responsabilidade. A Associação das Famílias Conservadoras tem direito a expressar a
sua opinião, esta supra-citada, ou qualquer outra. Não tem, no entanto, o direito de impor a sua
visão do mundo ao mundo, o direito de ver as suas pretensões censórias
conseguidas. Não creio que o papel do Provedor da RTP seja o de facilitador e
consolador de ultra-conservadores. Muito menos o de lápis azul.
Destemidas? Sim, obrigada.
Muito bem, Eugénia. Obrigada. Esta ia passando, subtil, como se não fosse nada, mesmo ao nosso lado. Perigo.
ResponderEliminarNão passa...merci.
Eliminare vão duas.
ResponderEliminarEntão já somos três!
Eliminarde DESTEMIDAS a TEMIDAS!!!!...uma velha história que não tem fim.
ResponderEliminarÉ verdade, Ana.
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