Há
momentos assim, em que precisamos de dizê-lo. Mesmo que não tenhamos a quem
dizê-lo. Ou que não saibamos dizê-lo ou como dizê-lo. E mesmo que aquele ou
aquela a quem queremos dizê-lo não mereça ouvi-lo. Como Lisa (Joan Fontaine) o
disse ao ingrato Stefan (Louis Jourdan) na mais bela carta de amor que o cinema
alguma vez escreveu, pela mão daquela “desconhecida” de Max Ophuls. E
precisamos de dizê-lo ainda que tenham já tenham passado cinquenta e três anos,
sete meses e onze dias desde o primeiro momento em que precisámos de dizê-lo
sem o conseguir, como o fiel Florentino Ariza o disse à eterna Fermina Daza
naquele amor em tempos de cólera que Garcia Marquez fez resistir a toda uma
vida feita também, também, de desamores, de muitos desamores. E ainda que não
saibamos se é amor aquilo que queremos que o seja, aquilo de nos deixarmos
enamorar, quando já ninguém usa a palavra enamorar, por uma simples imagem
refletida numa janela. Numa janela de um comboio, naquele amor “sem apelidos e
com nomes falsos” inventado por Jacinto Lucas Pires em “Sombra e Luz”. Ou numa
janela de um computador, por uma imagem com aura de obra de arte, uma imagem
tão bela que a nossa imaginação transforma na promessa de eternidade que o amor
mais perfeito e indestrutível, o amor pela ideia de amor, comporta. Precisamos
de o dizer sem saber porquê, apenas porque sim, e ainda que nos sintamos mais
desconhecidos do que Lisa o era para Stefan.
E
precisamos de o dizer como Cazuza e Bebel o disseram. Sem rodeios, de uma forma
tão infantil e lamechas que sintamos todo o peso do ridículo de que falava
Pessoa a abater-se sobre as nossas palavras. Só assim saberemos que dissemos
exatamente aquilo que precisávamos de dizer.
Precisamos sim. Obrigada
ResponderEliminarObrigado eu pela sua atenção :-)
ResponderEliminar