Foto de Pedro Catarino, CM
Escrever ainda é mais triste em tempos de cólera. E deixem-me dizer: nunca tinha visto Lisboa assim. Já amei e desamei Lisboa. De Lisboa, ó tão cedo, já me despedi, a Lisboa, ó tão resignado e triste, já retornei. Nunca a tinha visto nesta espúria, ingrata e tão temível solidão.
Hoje, quatro da tarde, caminhei pelo exacto meio das ruas do meu bairro como se os meus pés calcassem as areias desérticas do distópico A Boy and His Dog, como se eu fosse um só dos Five que dão título ao apocalíptico filme homónimo. As ruas do meu bairro já não são as ruas do meu bairro. São grandes, compridas, intermináveis, cheias de um impreenchível vazio. Nenhum ombro para roçar o ombro, nenhum braço onde pousar a mão, nenhuma face a que possa encostar leve a minha boca, nenhum beijo em voo que venha aflorar-me o rosto. Ó solidão.
Ó ... mas estamos aqui agora.
ResponderEliminarResta-nos o consolo de saber que a triste solidão, nas tuas palavras, fica ainda mais bonita.
ResponderEliminarÓ...
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