23 de março de 2020

"Ficou para trás, quente, a vida" I (per te, Italia)

Veneza 2008


Ficou para trás, quente, a vida,
a marca colorida dos meus olhos, o tempo
em que ardiam no fundo de cada vento
mãos vivas cercando-me…

Ficou a caricia que não encontro
senão entre dois sonos, a infinita
minha sabedoria em pedaços. E tu, palavra
que transfiguravas o sangue em lágrimas.

Nem sequer um rosto trago
comigo, já trespassado em outro rosto
como esperança no vinho e consumado
em acesos silencios…

                                              Volto sozinha

entre dois sonos lá’trás, vejo a oliveira
rósea nas talhas cheias de água e lua
do longo inverno. Torno a ti que gelas
na minha leve túnica de fogo.

Cristina Campo
(Tradução de José Tolentino Mendonça)


4 comentários:

  1. Água e lua são os olhos de Veneza.

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    1. Que se afunda agora vazia, mas com peso de morte.
      "Que c'est triste Venise
      Au temps des amours mortes" como cantaria Charles Aznavour

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  2. Ana, assim, com comentários a dar para a rua, as traseiras desta nossa casa ficam muito mais bonitas. E só há gente boa :-)

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