26 de abril de 2020

Entrou uma brisa pela casa adentro




Entrou uma brisa pela casa adentro. Um raio de sol vindo de um céu de trevas. Já era abril e veio para ficar. Com a mesma brusquidão com que, na entrada do século, quando eram uns ilustres desconhecidos, alguém os anunciou como a banda que vinha salvar o rock do seu toque de finados, agora, quase vinte anos depois, em plena quarentena, quando os julgava mais passado do que presente, contaminaram a casa inteira com o mais solar e livre dos sons que um estado de emergência pode permitir. Deles, cantou Alex Turner, frontman dos arqui-rivais Artic Monkeys, "I just wanted to be one of the Strokes", numa das pérolas do mais recente álbum dos Monkeys. Eu, da escuridão do meu confinamento, digo quase o mesmo, que os queria a viver para sempre em minha casa. Talvez os mais puristas apreciadores dos riffs dos velhos Strokes (tão velhos como o pode ser um rapaz de 41 anos como Julian Casablancas) torçam o nariz à eletrónica ou aos falsetes à Prince, talvez os guardiões da memória e os arquivadores dos clássicos do futuro se queixem que há pop a mais em canções tão luminosas como "The Adults Are Talking", "At The Door" ou "Why Are Sundays So Depressing". Eles que entendam o que quiserem porque eu já não dispenso a companhia de "The New Abnormal", o novíssimo álbum dos Strokes. Ninguém se pode dar ao luxo, muito menos nestes tempos de sombra, de dispensar a luz e leveza das canções com que a voz de Casablancas se atreveu a furar a quarentena.

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